
Foto: Uendel Galter | Ag. A TARDE
Quase todos os dias, a neurologista baiana Priscila Leite enfrenta o mesmo desafio: explicar aos pacientes que remédios não devem ser tomados sem prescrição profissional. “Eu atendo pessoas que tomam analgésico por conta própria todos os dias há anos. Usam como se fosse bala”, afirma. A situação se repete em todo o país. Nove em cada dez brasileiros tomam medicamentos sem requisição médica. Os dados da última pesquisa ICTQ/Datafolha sobre o tema, publicada no ano passado, apontam para um hábito que pode mascarar doenças graves e retardar o tratamento adequado, o que pode resultar no agravamento do quadro clínico.
De acordo com Priscila, o uso abusivo de medicações altera os moduladores de dor em casos de enxaqueca. Uma dor de cabeça esporádica pode se tornar uma doença crônica por causa da negligência. “É por isso que as pessoas acham que o corpo se acostumou depois de muito uso e aquele remédio não faz mais efeito”, explica a neurologista reforçando que, na verdade, é o excesso da medicação que torna o paciente mais sensível àquele desconforto.
Outro fator comum entre as pessoas que se automedicam é trocar o atendimento especializado pela ajuda de pessoas próximas e leigas, como amigos ou parentes, ou consultas à internet. O médico ginecologista José Carlos Macedo testemunha pacientes que, sem devido diagnóstico, compram medicações após ouvir sobre a experiência de outra pessoa ou consultarem o Google. “A blogueira, a mãe, as amigas recomendam uma terapia hormonal e a paciente copia, ignorando os riscos”, diz José. Ele alerta que a atitude pode culminar em um aumento do risco de trombose.
A pílula do dia seguinte em livre demanda também pode ser um problema, de acordo com o médico. O método contraceptivo de emergência é usado para prevenir uma gravidez indesejada após uma relação sexual desprotegida ou a falha de outro método, como o rompimento do preservativo, por exemplo.
José Carlos afirma que quanto mais se usa a pílula, maiores são as chances de gravidez. “Você dá uma carga hormonal exagerada para que o colo do útero fique hostil e possa barrar a ovulação”, explica. “Ela impede que o espermatozoide chegue ao óvulo, mas, se ele já chegou, a pílula não tem efeito abortivo”. José Carlos diz ainda que o método não deve ser usado de forma regular, pois contém alta dose de hormônios e pode causar efeitos colaterais como náusea, dor de cabeça e alterações no ciclo menstrual.
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