Desde segunda (30) moradores de Sento Sé, sertão da Bahia, bloquearam a passagem dos caminhões da Tombador Iron Mineração pela rodovia BA-210. A estrada que liga a comunidade Ponta d’Água à sede do município não é asfaltada, e o tráfego intenso de veículos pesados para escoação do minério tem causado diversos impactos nas comunidades que estão localizadas ao longo da rodovia estadual.
Uma moradora que está no protesto, mas prefere não se identificar, explica que as onze comunidades atingidas pela ação da mineradora na Serra da Bicuda entregaram, em agosto de 2021, um documento em que listam ações de mitigação que deveriam ser implementadas pela empresa e prefeitura de Sento Sé. O documento nunca foi respondido, e nenhum dos pedidos dos moradores e moradoras foi atendido.
Ela conta ainda que nenhum representante da empresa ou da prefeitura foi até o local da barreira para conversar com os moradores, apenas a polícia foi enviada para tentar negociar a retirada abertura da rodovia. “Nesses dois anos, a gente já tentou negociar com eles várias vezes, tanto com a empresa quanto com o município, mas eles nunca deram retorno”, diz a moradora. Ela afirma ainda que os moradores não pretendem permitir a passagem dos caminhões até que suas reivindicações sejam atendidas.
As comunidades tradicionais formadas por ribeirinhos, pescadores e agricultores camponeses afirmam que o tráfego pesado tem impactado a saúde dos moradores, a produção agrícola e aumentado os acidentes na rodovia. “A gente perdeu nosso direito de ir e vir na estrada”, conta a moradora que prefere não se identificar.
Além disso, as comunidades temem os impactos que a mineração a céu aberto podem causar no rio São Francisco, fonte de renda tanto na pesca quanto na produção de alimentos, e outros impactos ambientais de um empreendimento como este. De acordo com informações da própria Tombador Iron divulgadas, o projeto em Sento Sé pretende retirar até 1,2 milhão de tonelada de minério por ano por um período de cinco anos. Depois desse prazo, segundo os moradores, não há projetos para da prefeitura nem da empresa para a cidade.
As comunidades informam que a estrada só está bloqueada para os caminhões da Tombador Iron Mineração, os demais carros pequenos estão autorizados a passar pelo bloqueio. Elas reivindicam o asfaltamento urgente da BA-210. Em documento apresentado à prefeitura e à empresa em 2021, as comunidades listam outras obras que poeriam ser executadas para mitigar os impactos da instalação da mineradora, dentre eles, a pavimentação de ruas das comunidades, saneamento básico que garanta o abastecimento de água potável, policiamento local, além de ações de compensação como melhorias em prédios escolares, implantação de escola técnica e de posto de saúde, dentre outros.
Os moradores requerem ainda que a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF) cumpra com os déficits sociais devidos às comunidades. Sento Sé foi atingida pela construção da barragem de Sobradinho, na década de 1970. A cidade foi completamente inundada pelo lago da hidrelétrica, e seus moradores retirados do local. De acordo com o levantamento da Fiocruz, Mapa de Conflitos – Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil, muitos desses moradores e moradoras nunca receberam indenização pela perda do patrimônio material e imaterial que se perdeu sob as águas de Sobradinho.
Ainda segundo o Mapa de Conflitos, a partir de 2010, Sento Sé e região passaram a sofrer com os impactos também da implantação de grandes parques eólicos. Em 2020, durante a pandemia, a Tombador Iron Mineração acelerou o processo de exploração de ferro em minas a céu aberto. As comunidades relatam que a empresa e os órgãos ambientais usaram a pandemia de Covid-19 como argumento para não realizar audiências e consultas públicas sobre os lincenciamentos e instalação das minas.
Tentamos contato com a prefeitura de Sento Sé, mas até o fechamento dessa matéria, não tínhamos obtido resposta.
Edição: Alfredo Portugal
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